domingo, 16 de agosto de 2015

Fui assaltado na última sexta-feira

E com isso, fui forçado a dar um último adeus ao meu celular

 
É bem isso que o título e o subtítulo dizem. Fui assaltado.
Nesta última sexta-feira saí do trabalho e fui até o lugar onde normalmente espero a Esposa até que ela venha de carro e possamos ir para casa. Essa semana foi diferente.
Desci do ônibus e fui até o ponto de ônibus, que fica em frente a entrada de um shopping para esperar, tirei o celular do bolso e vi: 18:53, comemorei em silêncio, afinal, se ela viesse rápido como no dia anterior, logo deveria estar chegando e logo estaríamos a caminho de casa. Acho que foi o tempo de colocar o celular de volta no bolso e eu fui abordado por um sujeito que também estava por ali.

Tem horas? Estou esperando um ônibus que passa aqui, disse ele.

Ele gaguejou. Gaguejou demais para alguém que fazia uma pergunta trivial como é perguntar as horas.
 - São 18:55. Respondi rápido e não mostrei muita simpatia. Já tinha achado o sujeito estranho demais, como eu disse a todo mundo que contei o ocorrido, eu senti a maldade. Mas mesmo tendo sentido a maldade, não achei que pudesse acontecer alguma coisa, o lugar estava cheio, pessoas passavam o tempo todo por ali, não achei que pudesse acontecer alguma coisa. Aconteceu.
- Que horas tu disse que eram mesmo? 19:55? Perguntou mais uma vez o sujeito, igualmente gaguejando, dessa vez se parando na minha frente, quase que encostado em mim, não deu muito tempo para o fatídico anúncio ser feito.

 
- Eu estou armado aqui. Me passa teu celular... passa... passa... passa... dá uma olhada rápida pra trás, meu parceiro ta ali atrás de ti, se tu não passar o celular ele te fura.
Pedi calma pro sujeito, tirei meu amado iPhone 4S do bolso e entreguei. Ou melhor, ele viu o celular e arrancou ele da minha mão e saiu correndo para atravessar a rua. Desejei muito que tivesse passando um ônibus na hora e viesse a acertar o trombadinha bem no meio, o que não aconteceu. 
Fiquei ali um tempo, tremendo de raiva. Praguejando o mundo, não querendo estar ali, desejando que a Esposa chegasse no instante seguinte, ou melhor, que ela tivesse chegado poucos minutos antes. 

Mas ela ainda não tinha chegado. E mais aconteceu. Estava cuidando os carros que passavam e passa uma menina correndo e gritando que estão fazendo arrastão no túnel de acesso a este lugar, eu e mais algumas muitas pessoas corremos para dentro do pátio do shopping que falei antes. Eu, pessoas mais velhas, mulheres com filhos, famílias com crianças, um clima de pânico pairou ali. E eu, incrédulo. Eu tinha sido assaltado alguns minutos antes e agora um arrastão?
Fiquei ali no pátio do shopping cuidando a rua, com medo de que a Esposa chegasse por ali numa hora bastante imprópria. Mas não dava para continuar assim, manter as coisas assim. Cheguei num grupo de umas cinco pessoas que conversavam sobre o ocorrido e pedi um celular emprestado para ligar e avisar o ocorrido. Avisei e então só me restava esperar até a Esposa chegar.
Felizmente não me aconteceu nada, sequer tocaram em mim. Também não levaram minha mochila, onde estava minha carteira, meu iPod e algumas outras bugigangas. O que ficou foi a sensação de raiva e impotência, de saber que vou ter um gasto que não previa para comprar um celular novo, ficar praguejando contra toda essa onda de violência que toma conta do país, que não se vê solução para isso, enquanto nós, cidadãos de bem e trabalhadores, vamos nos conformando em não termos sido agredidos, comprando aquilo que nos foi levado e vivendo na incerteza de que vai nos acontecer ou não alguma coisa.