terça-feira, 30 de junho de 2015

A morte de Cristiano Araújo

e o suposto impacto na Bolha Cultural Brasileira

Crédito: Rubens Cerqueira
Esperei uma semana do ocorrido não para vir falar com propriedade do assunto, mas para poder analisar tudo que se falou a respeito desde então. Fiz bem, a repercussão foi maior do que eu imaginava e isso me deu a munição que eu precisava para escrever este texto. Mas chega de conversa mole e vamos lá.

Não estou aqui para falar da morte do Cristiano Araújo em si, nem menos lamentar a morte dele, afinal, eu fazia parte do grupo que sequer sabia da existência do cidadão até ter aberto o G1 no último dia 24/05 e ter tido a curiosidade de ver quem era exatamente. E continuei sem saber, mesmo depois de ler em algum lugar que ele era o cara do Bará Berê, que curiosamente, faz um tempo que vem se discutindo quem é o verdadeiro autor da música. Vim pra falar do tal impacto na Bolha Cultural do país, como teve (e tem) muita gente por aí falando.

A morte de Cristiano Araújo causou um rebuliço enrome na mídia. Desde o fato de ser anunciado o nome errado muitas vezes, mas principalmente o desconhecimento de muitos de quem exatamente é/era/foi Cristiano Araújo. E isso foi o suficiente para o desencadeamento de toda uma revolta por parte dos fãs do sujeito em questão. Mas isso todo mundo já sabe, o que achei interessante foi ver vários textos por aí chamando aqueles que não o conheciam de alienados, que não conheciam o país em que vivem. Acho que essa galerinha está indo longe demais. Explico.

Cristiano Araújo poderia estar vivo e completar 30 anos de carreira e eu possivelmente continuaria não sabendo quem é e o que faz por um motivo muito simples: eu não gosto de música sertaneja. Se não gosto, não procuro saber novidades, não fico sabendo qual é o novo hit ou qual músico está fazendo show na minha cidade, eu simplesmente não me interesso e por consequência, não sei quem são aqueles que compõe a cena, logo, ele nunca fez diferença e continua não fazendo no meu universo musical. Observe que não estou questionando a qualidade musical ou e muito menos a própria pessoa do Cristiano Araújo, o que estou questionando é o fato de eu (e assim como tantos outros) nunca ouviram falar do cara por simplesmente não estarem inseridos no meio do qual ele fazia parte. É uma coisa simples de entender, deixa eu exemplificar para ser mais claro. Quase três meses atrás, Kiko Loureiro (então guitarrista do Angra) foi anunciado pelo próprio Dave Mustaine como o novo guitarrista do Megadeth, levando em conta que o Angra é uma banda brasileira, Kiko Loureiro é um músico brasileiro, os fãs de Cristiano Araújo que nunca ouviram falar em nenhum dos dois, também não devem conhecer o país em que vivem. Não, pois assim como eu não estou inserido no contexto (e nem gosto) da música sertaneja, também os fãs de Cristiano Araújo não estão inseridos (e provavelmente não gostam) do Metal nacional e isso não faz deles alienados, ignorantes ou desconhecer o país em que vivem.

Entendem o que eu quero dizer? Num país do tamanho do Brasil, que tem uma variedade tão grande de movimentos artísticos e tantas tribos diferentes é compreensível e aceitável que não se conheça todos aqueles que de alguma forma são ídolos de cada um destes meios e o que cada um deles representou ou representa para o país.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Deus, Arcanjo Gabriel e o Ser Humano número 435987

Uma fábula moderna


Deus está em sua sala, fazendo seus trabalhos de Deus eis que entra na sala Arcanjo Gabriel esbaforido:

 - Senhor!! Senhor!!
 - Que foi Gabriel? Disse Deus, meio que sem entender o motivo de tanta correria.
 - O Ser Humano número 435987 é gay!! Ele é homem e está se relacionando intimamente com outro homem!!!

E Deus no alto de sua sabedoria e paciência, arruma os óculos no rosto e diz calmamente:

 - E?

quarta-feira, 17 de junho de 2015

O Dia em que a Internet Saiu de Férias

Um conto que conta um pouco de uma das nossas tantas frustrações modernas

As vezes eu imagino a Internet como um velho senil usando um computador antigo
Não tinha o que se pudesse fazer. O aviso tinha sido enviado ao RH cinco anos atrás, mas ninguém tinha levado a sério mas o fatídico dia infelizmente chegou. O RH não sabia como explicar, a gerência estava incrédula e desacreditada e a diretoria... bem, a diretoria era responsabilidade da própria Internet.

Com isso o RH convocou o chefe de cada setor para uma reunião extraordinária, não poderiam ficar sem a Internet e esta falha teria que ser corrigida o quanto antes. O Browser reclamava em alto e bom som que não tinha como manter seu trabalho sozinho, afinal, como gerenciar uma empresa sem a participação da diretoria? Ele não tinha autonomia de tomada de deciões sozinho. Os Sites e Portais disseram que se não fosse encontrada nenhuma solução, iriam pedir demissão até o final do dia. Não demorou muito até que os Clientes de E-mail começeassem a ligar perguntando o que estava havendo, o problema precisava ser solucionado. Mas o pânico foi geral quando as Redes Sociais corriam e gritavam pela empresa dizendo que a empresa estava falida, sem o serviço deles a World Wide & Co. poderia fechar as portas.

A reunião durou o dia todo, todos precisavam (ou ao menos aparentemente queriam) trabalhar, os ânimos estavam exaltados, não se encontrava nenhuma solução.

Eis que ao fim de cinco dias, a Internet entra pelo hall do escritório gritando em alto e bom som:

- Sentiram a minha falta?!

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Eu nunca aprendi a amarrar meus próprios cadarços

é sério, eu não sei amarrar os cadarços dos tênis


Quando criança, lembro de dar várias voltas nos cadarços nos tornozelos e depois amarrar de qualquer jeito.

A amarração do sapato é uma atividade complexa, que envolve vários passos, dentre os quais conseguir segurar as duas pontas até depois formar e apertar o nó. (...) é bem isso, uma atividade complexa que envolve vários passos que nunca entraram na minha cabeça e foi uma coisa simples, nem quando mais crescido, nem quando adolescente e nem agora quando adulto. Sou um homem de quase trinta anos que realmente não sabe amarrar os cadarços. Aquela coisa de fazer um laço e depois passar o outro cadarço na volta do laço, colocar ele por dentro de alguma coisa e formar o segundo laço é complicado demais para minha cabeça.

Com 15 anos eu aprendi com a minha irmã, 11 anos mais nova como amarrar os famigerados cadarços: fazer dois laços e amarrar um no outro, simples, rápido e funcional. Tá, no funcional fica um pouco devendo, já que não fica tão firme. Minha esposa sempre comenta que amarro como uma criança amarra. Mas é o que sei, não dependo de alguém para isso e funciona, então para mim está bem bom.

E se este laço simples que falei é demais para minha cabeça, eu não faço ideia de ao menos como começar qualquer uma dessas 17 maneiras para amarrar cadarços.


Não chega a ser uma vergonha, não chega ser uma frustração mas eu acho no mínimo curioso que até hoje eu não tenha aprendido. Deve ser porque como diz minha mãe, eu ainda tenha uma dificuldade com trabalhos manuais, tal como para fazer recortes, mas isso é assunto para outro dia.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

O Matemático do 520.1*

ou, Um conto urbano sobre as minhas aventuras pelos ônibus de Porto Alegre

Aconteceu hoje. Saí do trabalho e fui esperar o ônibus que me levaria até o meu ponto de encontro com a Esposa para virmos até em casa. Para a minha sorte, pelo segundo dia consecutivo consegui pegar o ônibus mais cedo, subi no 520.1 lotado e meus olhos já procuravam por um espaço onde eu pudese ficar bem em pé ou quem sabe a sorte de um espaço para sentar. Eu dei sorte. Quer dizer, mais ou menos.

Avistei um banco vazio e sentei. Do meu lado, O Matemático do 520.1. Sujeito de alguma coisa entre os 30 e 45 anos de idade, cabelos longos e desgrenhados, uma careca já evidente que mais parecia um Kippah natural, barba longa ao estilo Alan Moore com uma prancheta com muitas folhas no colo e algumas folhas soltas com problemas matemáticos. Muitos problemas matemáticos. Por um breve instante eu pude lembrar o quanto matemática sempre foi o meu Calcanhar de Aquiles na minha época de escola. Mal consegui terminar de lembrar essas coisas eu já ouvia alguns resmungos vindos do lado do Matemático do 520.1. Não demorou muito até que ele tivesse a brilhante ideia de falar comigo.

- A Matemática é linda, não é?
- Desculpe-me, mas...
- Todos esses números, toda essa simetria e exatidão... isso me fascina!

Ele não me deu espaço para falar. Ou melhor, tudo não passava de um monólogo e eu não tinha ainda me dado conta. Não tinha sido feita nenhuma pergunta, o Matemático do 520.1 simplesmente se deliciava em falar todas aquelas coisas enquanto fazia alguns cálculos que para mim não faziam sentido algum.

- René Descartes era genial! disse o Matemático do 520.1 enquanto rabiscava tantos outros cálculos e mumurava coisas indecifráveis.

E assim continuou pelos próximos quinze ou vinte minutos, quando finalmente ele desceu do ônibus e eu fiquei certamente, entendendo menos ainda de matemática do que eu já entendia.

*Se não ficou bem claro, 520.1 é o nome/número da linha de ônibus que eu pego.

O dia em que Paola Bracho invadiu um apartamento

Originalmente postado aqui em 27/08/2010


Não satisfeita com somente usurpar meio México, Paola Bracho viu que seu Reino poderia ser melhor expandido, se viesse a invadir um apartamento. Sim, invadir um apartamento.
Aquele quarto-e-sala onde viviam três amigos, soterrados entre caixas de pizza e lasanha parecia o lugar perfeito, afinal, quem iria querer alguma coisa naquele antro de podridão? Paola Bracho. Ela.
Invadiu o apartamento como um furacão, derrubando as caixas pelo caminho e levando um dos garotos até o banheiro, deixando-o amarrado na pia pelo cordão de um dos tênis.
E os outros dois? Um virou escravo sexual de Paola, enquanto outro, o motorista.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

E?

Originalmente postado aqui em 30/11/2010


Xuxa tatuou o nome da filha, Sasha, no pulso.(…)

Agora eu quero saber o que tem demais em a Xuxa ter tauado Sasha no pulso. Eu ficaria realmente surpreso se ela tivesse tatuado Marlene Mattos na bunda.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

A Homofobia Nossa de Cada Dia

ou, O Boticário e os Fiscais de Cu Alheio

Créditos da imagem: Razões para Acreditar
Antes de começar acho importante dizer: eu odeio escrever sobre coisas que está todo mundo falando, me sinto batendo na mesma tecla e mais uma voz perdida, mas não consegui ficar sem me manifestar. Voltemos a programação original.

Acho que muita gente já viu (ou sabe) da campanha d'O Boticário para o Dia dos Namorados deste ano onde são mostrados dois casais homossexuais e dois casais heterossexuais. Até aí tudo bem. O problema foram os fiscais de cu começarem a aparecer e a problematizar o comercial.

De idiotas postando reclamações junto ao Reclame Aqui a comentários estúpidos em redes sociais, esse tipo de gente tem se  mostrado bem mais saliente do que deveria. O meu ponto aqui não é apontar o dedo pra essa gente, mas só um desabafo pequeno (e que provavelmente quase ninguém vai ouvir) para tentar entender onde que o amor, a sexualidade mas principalmente a vida alheia afeta a vida dessa gente. É uma dúvida simples em cima de um assunto tão pessoal (cada um é o que é, faz o que quiser e ninguém tem nada com isso) mas que muita gente ainda não entendeu.

E estava demorando para babacas do quilate do Malafaia se pronunciarem sobre o assunto pedindo por boicote a marca, como se isso fizesse algum sentido.

Para a minha alegria (e felizmente, de muita gente) apesar de todo tumulto, o Boticário não recuou da sua posição. Então enquanto houverem ações como esta, ainda haverá esperança de que não precisemos mais discutir tanto a homofobia como ela é discutida.



Eu sei que todo mundo já viu o comercial, mas o quanto mais compartilhado e divulgado, melhor.