quarta-feira, 10 de junho de 2015

O Matemático do 520.1*

ou, Um conto urbano sobre as minhas aventuras pelos ônibus de Porto Alegre

Aconteceu hoje. Saí do trabalho e fui esperar o ônibus que me levaria até o meu ponto de encontro com a Esposa para virmos até em casa. Para a minha sorte, pelo segundo dia consecutivo consegui pegar o ônibus mais cedo, subi no 520.1 lotado e meus olhos já procuravam por um espaço onde eu pudese ficar bem em pé ou quem sabe a sorte de um espaço para sentar. Eu dei sorte. Quer dizer, mais ou menos.

Avistei um banco vazio e sentei. Do meu lado, O Matemático do 520.1. Sujeito de alguma coisa entre os 30 e 45 anos de idade, cabelos longos e desgrenhados, uma careca já evidente que mais parecia um Kippah natural, barba longa ao estilo Alan Moore com uma prancheta com muitas folhas no colo e algumas folhas soltas com problemas matemáticos. Muitos problemas matemáticos. Por um breve instante eu pude lembrar o quanto matemática sempre foi o meu Calcanhar de Aquiles na minha época de escola. Mal consegui terminar de lembrar essas coisas eu já ouvia alguns resmungos vindos do lado do Matemático do 520.1. Não demorou muito até que ele tivesse a brilhante ideia de falar comigo.

- A Matemática é linda, não é?
- Desculpe-me, mas...
- Todos esses números, toda essa simetria e exatidão... isso me fascina!

Ele não me deu espaço para falar. Ou melhor, tudo não passava de um monólogo e eu não tinha ainda me dado conta. Não tinha sido feita nenhuma pergunta, o Matemático do 520.1 simplesmente se deliciava em falar todas aquelas coisas enquanto fazia alguns cálculos que para mim não faziam sentido algum.

- René Descartes era genial! disse o Matemático do 520.1 enquanto rabiscava tantos outros cálculos e mumurava coisas indecifráveis.

E assim continuou pelos próximos quinze ou vinte minutos, quando finalmente ele desceu do ônibus e eu fiquei certamente, entendendo menos ainda de matemática do que eu já entendia.

*Se não ficou bem claro, 520.1 é o nome/número da linha de ônibus que eu pego.

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